5 de novembro de 2008

Noitada

Excitação. É noite, e o eterno ritual será realizado novamente. Cada membro enfeita-se com suas melhores peles, plumagens e pinturas. Chifres, metal dourado e prateado, pedras coloridas, flores, tudo é adorno. Cada um busca criar pra si uma imagem diferente visando chamar atenção de algum parceiro. Todos da mesma espécie, porem com profundas diferenças entre os indivíduos. Todos buscando os mesmos frutos, sabores que aguçam os mais diferentes paladares.

Homens e mulheres, do mais forte guerreiro ao mais simples ceramista, aglomeram-se nas diferentes ocas. Cada tribo tem seus territórios, contudo os homens vivem cruzando as fronteiras. Se paga o tributo do ritual com parte da preciosa caça de todos os dias. Todos são bem vindos desde que sejam de paz.

No interior da estrutura a magia permeia a tudo. Cada palhoça tem seu poder e magias próprias. Tochas coloridas, reflexos dos cristais, fumaça alucinógena, bebidas. Todas fazem com que se entre no fascínio da cerimônia. Ouve-se então o som das grandes flautas aborígines. Os xamãs aquecem os tambores e percussão. Batidas rítmicas aceleram no compasso do desejo da massa. Tudo vibra e tudo pulsa. Está iniciado o ritual.

No calor e na penumbra o homem dança. Exalta sua individualidade ao som da mistura instrumental. Cada um faz seu rito particular em meio ao grande cerimonial. Alguns comungam com suas divindades próprias buscando liberar a tensão e medo. É uma dança solitária na qual o espírito perde o limite do corpo. Outros enaltecem a si buscando o acasalamento e deleite. Corpos se esbarram, entrelaçando mãos, confundindo os limites de si, trocando cheiros de suor e perfume, chocando quadris e criando o caos da volúpia.

Todos completam o grande encantamento. A terra treme emanando a energia ali gerada. Os espíritos daqueles homens e mulheres atingem o êxtasi. Há aqueles que se frustram e acabam por não ascender ao clímax, mas mesmo esses têm seu ganho. Quando o sol nasce, muitos já se foram e muitos ainda continuaram até que a musica pare. O homem vai embora, mas sabe que pode voltar num novo ritual buscando novas experiências. Assim se completa o ritual de prazer.