24 de junho de 2009

Atras da porta.

A casa estava cheia. Amigos, convidados, espalhados por todos os lados, festejando. Através das muitas janelas e vão abertos da casa, a luz vermelho alaranjada do sol poente banhava a tudo deixando a atmosfera utópica. A música harmonizava ao ambiente, suave e baixa, permitindo que a conversa e os risos prosseguissem sem problemas. Taças de vinho, copos de cerveja e outras tantas bebidas circulavam. Uma mesa farta garantia que ninguém saísse insatisfeito de lá. E, do modo como todos estavam rindo e se divertindo, não haveria esse risco a correr.
O anfitrião cruzou os cômodos verificando se tudo estava bem. Sorria e retribuía comentários passando em direção ao toalete. “Só um momento” disse enquanto adentrava o cômodo. Fechou a porta, trancando-a, deixando lá fora toda a gente. Foi até a pia e abrindo a torneira curvou-se. Com as mãos em concha molhou a face. Ao levantar, abriu os olhos ainda com as mãos na altura do rosto. Deparou-se com a própria imagem refletida no espelho. Por indefinidos centésimos de segundos ele permaneceu estático, até que o impulso o levou a cobrir a boca sufocando um soluço de choro.
O calor das lágrimas perdia-se quando se misturavam com as gotas frias do rosto ainda enxaguado. O pranto e a avalanche de emoção escoavam como a água da torneira ainda aberta. Esforçava-se para conter qualquer sinal que provocasse alarde ao mundo do outro lado daquela porta. Ali, naqueles poucos metros em meio à casa cheia, ele encarou a verdade dentro de si:
Jamais se sentira tão só.

18 de junho de 2009

O futuro entreaberto

Já se fecharam as portas que deixei entreabertas no caminho. Num instante inesperado, uma lufada de ar, tudo se trancou deixando no passado o que me prendia. Por um momento experimento novamente a liberdade de não saber onde depositar meu desejo. De não tê-lo ligado a ninguém. É como estar em campo aberto e olhar ao horizonte podendo ver por completo a tênue linha que divide céu e terra. Não há montanhas e morros, não há árvores ou prédios. Não há ninguém indo ou vindo. Apenas você e o futuro desconhecido.

A perspectiva é diferente agora. Não creio mais que o caminho me leve à solidão. Ainda que o inquietante desconforto de deixar o desejo a esmo exista, ele agora é brando. Quase prazeroso. Ignoro quase que por completo a expectativa de moldar meu futuro junta a alguém. É algo que já não me parece mais tão importante. Entendo que dediquei muito tempo a essa busca, mas essa Moby Dick já não atrai mais meus sentimentos como antes. Se ela está adormecida, hibernando, esperando o momento certo para um novo ataque, eu não sei. Apenas me preparo, suprindo-me para uma nova jornada.

Não me importo agora o tempo que isso durar. Já me disse outras vezes, mas não me custa nada repetir: Voltarei atrás assim que entender que essa não é uma verdade que eu queira. “As nossas escolhas tem sempre metade de chance de dar certo” disse o poeta e é esse o pensamento vigente. Não me adiantou lutar contra o tempo. Nada resultou a luta contra os momentos que experimentei. Lutar contra a vontade alheia só criou maiores frustrações em mim. Agora, definitivamente, luto apenas contra mim mesmo.

Vencendo ou perdendo, eu sairei melhor.